sexta-feira, 14 de outubro de 2011

No dia que faltou água

É noite. É sábado. Faz frio.
Estou no quarto, trancado, sozinho.
Faz tempo mal como, perco peso,
perco as pilhas, perco planos, perco tempo,
passam os anos, perco espaço, perco...
Pego e tomo um comprimido
passa tudo, menos a dor de cabeça
Ligo para um amigo, não atende
Tento dormir, tento descansar, tento
descobrir afinal o que é que tenho
além dessa terrível enxaqueca
Caio na cama cansado. Penso
logo existo, logo me perco
em ideias vagas e lembranças
"Cadê aquele meu livro de Semântica?"´
É noite. É sábado. Faz frio.
Nunca me percebi assim tão sozinho
nunca notei aquele vaso vazio
em cima da minha cômoda
incomodando os velhos livros
principalmente aquele de crônicas
de Carlos Drummond.
Eu devia estudar morfossintaxe
ou escrever um artigo sobre Camões
Eu devia chamar um táxi
e sair para um lugar bem longe
Eu devia virar mágico
artista de circo, palhaço
ou ir pro Tibete virar monge
Eu devia fazer qualquer coisa
lavar as louças, limpar o lustre
colecionar coisas absurdas
comprar veneno para moscas
fazer um poema para as moças
fazer um pouco de tudo.
Faltou água. Fico mudo!

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